quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Oficina de Notícias : praticando se aprende




Por : Érian Naínna


O Oficina de Notícias é um jornal laboratório, fruto da disciplina de Oficina de Impresso do curso de Comunicação/Jornalismo da Uesb. São produzidos pelos alunos três jornais por semestre, com cerca de 1.500 tiragens cada. Dentro dessa produção, são desempenhadas funções bastante parecidas com as de um profissional graduado. Funções estas que vão desde a produção textual, até fotografia e diagramação e que direcionam a escolha profissional dos estudantes a medida que estes escolhem produzir o que lhes é de maior afinidade.


Para muitos, a experiência da construção do jornal só vem a acrescentar na formação do aluno, uma vez que através da prática eles conseguem “simular” a profissão e vão se adaptando a vida nas edições. É uma maneira também de estímulo e preparação para o mercado de trabalho.


De acordo com o professor da área de comunicação, Danillo Duarte, o jornal laboratório é de grande importância, pois agrega o caráter prático do curso, “sem dúvida o Oficina de Notícias é o carro chefe para o estudante de jornalismo”. Ele acredita que a grande circulação do produto e a possibilidade de poder assinar textos ajudam muito na preparação de uma carreira: “Vocês têm a possibilidade de estar assinando esses materiais e, sobretudo, demonstrar suas afinidades textuais, sua capacidade de investigação e articulação. Eu vejo no jornal impresso um lugar onde o aluno começa a fazer o seu primeiro currículo”.


Os estudantes do terceiro semestre que estão produzindo os jornais também concordam que a experiência do laboratório é relevante. Para eles, o experimento é fundamental além de diferente. Depois de dois semestres de muitas teorias, os mesmos confessam que não viam a hora de praticar algo de certa notoriedade. “Aqui, vamos atrás de entrevistas, fotografamos coisas, aprimoramos muito nossas produções porque praticamos. Posso escrever textos de cunho mais informativo como subjetivos também, no caso do Engrenagem (caderno suporte do Oficina) que tem uma linguagem mais lúdica.”, acrescentou Ellen Guerra.


A organização do Oficina se dá de maneira bastante diferenciada. Os cargos de editor chefe, editores, repórteres, revisores e fotógrafos não são cargos fixos e ocorrem de forma alternada. Quando abordada sobre essa questão, a aluna Carina Garcia, terceiro semestre, confessou que no início teve algumas dificuldades, sobretudo com a hierarquia estabelecida no jornal dentre os próprios alunos, mas que depois acabou por se familiarizar e adaptar “No início senti dificuldades, tive a chance de ser editora e repórter, aprendi bastante com ambos os cargos. Hoje vejo não só a mim, mas aos demais colegas, como pessoas um pouco mais maduras no que se refere ao desempenho de atividades jornalísticas”.


Outros graduandos que passaram pelo Oficina comentaram sobre a contribuição do mesmo em suas vidas. Eles avaliam o processo como muito válido. Emilãine Vieira, agora no quinto semestre, afirma que a produção do jornal a fez aprender muito, principalmente na parte textual, além de da diagramação “aprendi muito, a questão de como funciona um jornal, como a gente pode participar do processo de construção, como o aluno deixa de ser aluno e passa a ser um pouco jornalista. Ele escreve suas próprias matérias e começa a receber um ’feedback’ das pessoas”. Emilãine, que trabalha na área de web designer, afirma que por questão de afinidade, no Oficina, pode se manter nesse ramo: “eu prefiro me manter nessa parte, na parte de imagens. Eu ajudei com foto, escrevi, aprendi muita coisa, acho que no fim das contas vale muito a pena”.


Apesar dos elogios por parte dos alunos e docentes para com o Oficina de Notícias, é notório que o curso ainda carece de muitas outras oficinas para melhorar a qualidade do jornal. Os alunos possuem bagagem teórica, mas aspectos práticos ainda deixam a desejar. As disciplinas de web jornalismo e fotojornalismo ainda não foram implantadas e se sabe que são imprescindíveis para a formação de um jornalista. A maioria dos alunos é obrigada a aprender, durante o laboratório, detalhes como: qual melhor ângulo para uma foto, como construir bom texto, conciso e sem erros de português, construção de um projeto gráfico, quando na verdade já deveriam entrar sabendo. Essas deficiências acarretam na terceirização do trabalho e prejudicam o andamento profissional dos alunos ao passo que o mercado de trabalho atual exige cada vez mais certa “multifuncionalidade” por parte dos mesmos.


O professor que ministra a disciplina de Jornalismo Impresso, Rubens Sampaio, acredita que além do problema da falta de mais oficinas, existe também a questão da falta de sintonia entre aquelas disciplinas que deveriam preparar os alunos para quando chegarem ao impresso. “O curso teria que ser melhor coordenado, os alunos chegam com um amontoado de teorias na cabeça e alguns até desestimulados com o curso de jornalismo quando a gente sabe que na realidade a profissão é extremamente dinâmica e prazerosa”, conclui Sampaio.

Quando chega a hora de entrar no laboratório

Alunos que já passaram pela Oficina de Jornalismo Impresso contam como foi viver de perto a rotina redacional

Por Patrick Moraes

Para os alunos do curso de Comunicação Social (com habilitação em Jornalismo) da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (Uesb), o tão sonhado 3º semestre é a chance de pôr em prática a teoria dos livros. Inovação, criação, técnica, vivência de redação e tantos outros pontos são aspectos que compõem essa atmosfera do laboratório de Impresso. Estudantes e professores tentam estabelecer uma espécie de relação de mercado redacional e mostram sucesso com o trabalho final chamado Oficina de Notícias.

A enfadonha missão de diagramar



Rubens Carvalho, estudante de jornalismo do 7º semestre, diagramador do jornal-laboratório de sua turma, passou pelas experiências de editor e repórter e mostra como isso é importante para o acadêmico da área jornalística. Já interessado e com conhecimento na parte gráfica, o aluno desempenhou paralelamente papéis que muitos não têm oportunidade. Mesmo assim, revisar e adequar o texto para o projeto gráfico não é nada fácil, como afirma Carvalho: “tive desvantagens em ser diagramador do jornal, pois além de escrever, tinha também que diagramar. No jornal em que fui editor chefe, foi ainda pior”.

Em termos de suporte para os segmentos de diagramação e fotografia, Carvalho afirma não ter vivido essa experiência em nenhuma matéria oferecida pelo curso. Mesmo assim, se mostra positivamente satisfeito com a passagem pelo Oficina de Notícias. Viver o dia-a-dia do laboratório foi motivo de aprendizado e complemento para a teoria estudada. “O Oficina de Notícias, pelo menos para minha turma, foi um excelente aprendizado”, ratifica Carvalho.

Produzir um jornal-laboratório e ouvir elogios a ponto de ser considerado de qualidade superior às produções regionais é com certeza gratificante. Dentro dessa produção laboratorial, o suplemento cultural veio como diferencial para o Oficina de Notícias. Implantado na turma de Carvalho, a ideia ganhou nome de “Balaio” e procurava mostrar o leitor o que há de interessante culturalmente na cidade. No final, Carvalho confirma o que já era esperado quanto à preferência da turma em relação ao segmento a ser trabalho: “Minha turma sempre gostou mais do Balaio por ter esse aspecto mais cultural”. Mesmo assim, nunca houve rejeição com o chamado “Oficina convencional”, onde as notícias tendem a ser mais sérias e essencialmente informativas.

Por fim, Carvalho não apoia a possibilidade de exercer essa ou aquela função isoladamente dentro do Oficina de Notícias. É necessário conhecer de perto a experiência de ser repórter e editor, além de também atender a outras necessidades da redação. Ainda assim, Carvalho sustenta: “não acredito que as funções de diagramador e fotógrafo devam ser tratadas como um cargo no Oficina”.

A vontade de produzir o melhor



Laís Vinhas, também estudante de jornalismo do 7º semestre, repórter e editora do Oficina de Notícias, fala da experiência com brilho nos olhos. Fechar o jornal pode até ser um período de cansaço e ansiedade, mas para a aluna não existe momento melhor para troca de conhecimento entre colegas. Para isso, Vinhas revela ser necessário se entregar à produção, sem vontade nada funciona. "Na minha estadia na Universidade, os momentos mágicos, que mais me fizeram enxergar a comunicação como meu trabalho futuro, foram nas aulas de Jornalismo Impresso", anunciou veemente.

Quando o assunto se volta para as relações interpessoais dentro da redação e a divisão de tarefas, Vinhas vê tudo com muita cooperação e união. A dinâmica de redação na produção de sua turma, que por sinal é a mesma de Carvalho, ocorreu diferente das que se sucederam. Com a divisão da turma em dois grupos, o suplemento cultural, “Balaio”, era editado por um, enquanto o “Oficina convencional” era missão de outro. Na edição seguinte, os papéis se invertiam. Entre os problemas, é certo dizer que o grupo sempre esteve disposto a encontrar soluções junto. A matéria que criticava assiduamente o prêmio recebido pelo curso de Administração da Uesb rendeu “pano pra manga”. No final, “conseguimos, juntos, reverter a situação. Demos espaço na edição seguinte do jornal para o direito de resposta da Assessoria de Comunicação da Uesb e fechamos o caso”, esclarece Vinhas.

Quando o mercado de trabalho é confrontado com a experiência laboratorial, a aluna não acredita na vivência como totalmente mercadológica. Até mesmo pelo seu caráter experimental, o Oficina de Notícias oferece tempo para uma edição mais vagarosa e detalhada, é aqui o momento do estudante inovar. Justamente pelo fechamento ocorrer, geralmente, em um intervalo mensal, o conteúdo das matérias não é “quente” (hot news), existe uma opção pelas matérias atemporais. “No mercado de trabalho a edição de um jornal é feita em um dia, há a aceleração, o cuidado com o tempo, o "deadline", o critério de rapidez, habilidades que os jornalistas que estão no campo conseguem fazer com facilidade, devido à prática, nesse sentido o Oficina não prepara para o mercado”, conclui.

A diversidade de temática nas pautas que devem ser produzidas é mais um aspecto interessante nessa jornada em laboratório. Escrever sobre política não é o forte de Vinhas, que sempre preferiu o segmento cultural. Mesmo assim, encontrou espaço na editoria de economia para experimentar o outro lado da moeda. “Gostei de fazer a matéria de economia, foi extensa, me exigiu muito tempo, concentração, era um tema complexo”, expõe Vinhas, que ainda completa: “era mais difícil do que escrever pro Balaio, mas não menos prazeroso”.

De longe e passado um ano nessa correria, com certeza o trabalho foi compensatório e enriquecedor na vida acadêmica e profissional de Vinhas. As exaustivas 12 horas ininterruptas deixam lembranças que o mercado de trabalho jamais conseguirá suprir. O Oficina de Notícias é a realização de vontades, o crescimento do aluno enquanto jornalista. “Foi uma matéria brilhante, sinto saudades”, entrega Vinhas.

sábado, 3 de outubro de 2009

O cara estranho



Por Patrick Moraes

Um minuto para terminar a última aula, a sexta-feira sempre era ponto de escape para Dio. Faculdade, estágio, a rotina que rondava sua vida a semana toda às vezes o tirava a paciência. Sempre gostou de ser o primeiro da turma, o elogiado no trabalho, fazer com primor o que se propunha. Não era por acaso que havia sido promovido duas vezes em um ano. Tempo para diversão era raro, só nos fins de semana quando a faculdade ou os trabalhos acumulados do fórum não roubavam o espaço daquela festinha que ia bombar. Gostava de meninas, gostava de meninos, sabia que o interesse era o grande barato para uma boa noite. Saiu de casa cedo, era menino ainda. Viu que precisava crescer e sempre gostou de ser independente, colocar o dedo no rosto e dizer que era o dono da situação. Sim, orgulhoso e arrogante, sabia como ninguém subestimar, mas no fundo era amável. Não pise no calo, taurino nato, sabe o que é seu, mas nem sempre consegue agarrar os frutos que conquistou.

De repente o professor prolixo encerra a aula. Alívio, mesmo com um seminário, dois quilos de livro para leitura e mais três procurações para escrever. O celular vibra com um convite para mais tarde: “balada ou jantar?”. Ironia ou não, havia pensando hoje nele, mas tinha combinado com sua ex-namoradinha de tomarem um vinho no apartamento dela. Mais essa para resolver! No fórum, a tarde não seria nada parada e faltou tempo para pensar no tipo de vinho ou mesmo na casa noturna mais adequada. Dois minutos para o final do expediente e nada resolvido. Arrumou as coisas na mochila e foi às pressas para seu apartamento. Direto para o twitter e nada pior que ver esperança naquelas mensagens indiretas mais que claras. Dani, a ex, apostava em uma futura volta, nunca conseguiu esquecer o romance de colégio. Mas para Dio era apenas uma amizade gostosa, talvez aproveitasse para elevar o ego e descarregar a carência, mas nada além disso.

“Sign Out” e uma toalha. Precisava de uma ducha quente para aliviar o stress. Ainda tinha que decidir a roupa adequada e isso implicava uma ocasião definida. Colocou o roupão e foi até a cozinha quando o celular toca Carla Bruni. Lembrou imediatamente daquela viagem a Paris. Era ele, e agora? Aceitava aquela noite ou adiava mais uma vez? Lembrou da brincadeira de menino no Arco do Triunfo, o som do violonista em frente à Torre Eiffel, a discussão em pleno os corredores do Louvre. Jurou que faria diferente quando voltasse ao Brasil, mas preferiu sumir sem dar explicações. Provavelmente nem ele teria uma convincente. Mesmo depois de dois meses, a caixa de email disputava com as ligações em quantidade de pedidos. O telefone parou, Dio tinha alguns minutos a mais para decidir. Olhou no espelho e viu um eu confuso, perdido nas convicções que tentava transparecer cotidianamente. Resolveu encarar o que seu desejo pedia e foi só o tempo de vestir a blusa cor de rosa com um jeans Diesel e ajeitar o cabelo. Pegou a chave do carro, cruzou o Corredor da Vitória, parou em frente ao prédio de grades pretas e sentiu saudade de quando namoravam ali na garagem. Preferiu não interfonar, a resposta seria mais direta para ajudar no clima das próximas horas. Ligou, chamou, segundo toque, a voz era como um tiro bem acertado. “Desce!”.

A porta do carro fecha e o cheiro de Lapidus exala o charme que o prendeu nas noites parisienses. Eram só os dois hoje, amanhã poderia ser ela, outros, mas Dio queria uma noite assim. Não seriam a casa noturna da Barra nem mesmo um restaurante no Rio Vermelho os destinos combinados. Mas ainda não era hora de revelar, Dio queria surpresa, gostava de ter o controle da situação, escolher aonde ir, ver que tudo era da forma na qual ele planejou. Poderia não ser tarde, o sol já ter ido embora há tempos e os barcos nem velejarem com tanta leveza, mas era lá que ele desejava ir. Olhar as ondas, sentir a brisa e estar com quem escolheu. Andaram, conversaram, se olharam. Dio queria o momento, ele queria a certeza. Não poderia haver cobrança, nem mesmo promessas. A página amarela do capítulo de amanhã era embaraçosa, quase ilegível. Entraram no carro, já era tarde, se despediram com apenas um abraço e antes de Dio abrir a boca o celular tocou. Dani resolveu entrar em cena. Mas nesse ato não cabia seu papel de donzela abandonada, era impróprio interromper a cena de fim de filme clássico.

O cinema acabou e a noite esvaiu as certezas que Dio achou um dia ter. Era mais um conto sem beijo clássico, uma história água com muito açúcar que acabava logo quando o sol de sábado nascia. Era a imagem do rapaz de bem, talvez com aplausos, mas sem sorrisos. A necessidade de aprovação do ego, a falta de direção na estrada. A arena de competição estava dentro dele, do cara estranho que insistia em ser Narciso. No fim, não tinha com quem dividir as tardes de domingo e acabava por tropeçar os quarteirões da solidão em cima da mesa de madeira e dos papéis velhos de artigos jurídicos.

Cotidiano de Chico


Por: Érian Naínna


“ todo dia eu só penso em poder parar, meio dia eu só penso em dizer não, depois penso na vida pra levar e me calo com a boca de feijão (...)”


Chico levantou da cama e ainda sonolento calçou os chinelos, foi até o banheiro usou o vaso e em seguida deu descarga. Mais uma vez acordara atrasado. A noite passada não fora diferente das outras, a insônia voltava a lhe atormentar. Foi até a pia abriu a torneira e lavou as mãos e o rosto com sabonete e água fria, sagrado remédio para despertar de vez. Como de costume escovou os dentes ,teve que apertar pacientemente o creme dental pois o mesmo já estava quase no fim. Na hora de barbear-se Chico percebeu que o seu pincel havia desaparecido, como estava apressado passou o creme no rosto com as próprias mãos e fez a barba rapidamente com o gilete. Quanto ao banho , ao abrir o chuveiro sentiu cair a água fria em suas costas, se arrepiou e logo ajustou para quente. Terminou o banho, penteou os cabelos ,enxugou os pés com a toalha e foi se vestir. Primeiro a cueca e meias, depois calça, sapatos e por fim camisa, gravata e paletó. Não se sentiu confortável, a camisa estava apertada nos punhos, o aumento de peso já era notório. Pegou a carteira colocou os niqueis, os documentos, que nunca saia sem, e as chaves do carro e da casa. Em seu bolso já estavam os carltons , marca de cigarro predileta, e uma pequena caixa de fósforos, não gostava de fósforos, achava que fediam mas como o gás de seu isqueiro havia acabado noite passada não teve opção. Se dirigiu até a mesa de café da manhã, lá já havia seu jornal matinal colocado logo cedo pela prestativa secretária do lar. Ele gostava de ler enquanto comia. Uma forma de se manter a par das notícias uma vez que não tinha tempo pra TV, Internet e coisas do tipo. Tomou uma xícara de café, estava bem quente, e na hora que se virou para pegar o mamão que estava no pires um pouco mais distante, bateu a mão no prato do pão de sal que rolou pela mesa e caiu no chão. O bule também quase caia, mas ele conseguiu segura-lo a tempo, mesmo isso lhe custando uma pequena queimadura na mão esquerda e uns respingos de chá perto do bolso da camisa. Passou o guardanapo. Por sorte era chá de erva cidreira, não deixava manchas. Depois de seu desastroso desempenho no café da manhã, acendeu um cigarro para se acalmar e seguiu para o carro. A pasta e seu quadros já estavam no carro também. Ele sempre esquecia de pegá-los. Chico nunca fez o tipo que leva trabalho pra casa. Achava que o estresse de passar o dia todo naquela empresa bastava. No lar só queria sossego. Já no escritório colocou as coisas em sua mesa e sentou-se na poltrona, adorava aquela poltrona, talvez fosse uma das poucas coisas de que gostava ali. Olhou pra frente e viu milhares de papéis. Papel igual a trabalho, muito papel igual a muito trabalho e muito trabalho sinônimo de cansaço. Olhou mais uma vez e viu o retrato de sua filha ao lado de um vazo de plantas em cima da mesa. Sentiu saudade, a algum tempo não a via, a verdade é que depois da separação as visitas iam ficando cada vez mais raras. A planta remetia esperança e a filha, juventude. Quis sair dali, quis se libertar. Não podia, não sabia. Então seguiu fazendo o tudo de todo dia. Fumou um cigarro e fez relatórios, leu os papéis e bebeu café, atendeu o telefone e fumou mais cigarro. Pensou nos vales daquela quinta , se felicitou. Lembrou dos chegues da próxima segunda e entristeceu.




terça-feira, 15 de setembro de 2009

Eram desejo


Por Patrick Moraes

Naquela noite, ela estava mais radiante. Ele ainda era tímido, território estranho para um pequeno homem. Talvez não passasse de uma reunião entre amigos, uma noite de bebidas ou até uma partida de baralho após o trabalho. Copos, vodka e cerveja. Uma partida, um gole, três partidas e o copo inteiro esvaziou. Ele andava a casa inteira, esperava o momento de tocar os dedos dela. Sempre quis os dois juntos, talvez não fosse ela quem ele sonhou a vida toda, mas hoje seu sonho futuro não tinha outro nome. O medo estava em seus olhos, mas o encontro dos corpos fez brilhar o desejo de mais. Mais copos, mais risos, mais esbarros, mais vontade. Ela levantou, ele foi atrás. O caminho era curto, a oportunidade não era aquela. Ela ainda o amedrontou com uma leve iniciativa. O beijo roubado era divertido, fazia parte do jogo que ela provocava. Achou graça dele, piscou o olho e saiu.

Ele olhava ela dançar. E como dançava leve, solta, não tinha tantos pudores. Ela percebeu e olhou, sorriu de canto e simplesmente virou o rosto. Mais uma casa andada no tabuleiro, o jogo começava a ficar disputado. Ele foi excitado, ela sabia provocar. Acabaram as brincadeiras, começou a noite. Eles entraram, subiram, sumiram. Agora era ele quem roubava o beijo de verdade, prendia a cintura dela em seu corpo e deslizava a mão onde mais tivesse curiosidade. Ela ainda não estava entregue, sabia a hora de cortar o peão e fazer os dados pararem no seis. Parou! Deu mais um sorriso de canto de rosto, passou os dedos pela face dele e saiu. Ele riu, riso de quem perdeu o controle, mas não perdeu a noite.

Ela deitou, ele chegou logo depois. Lençol vermelho, colchão pequeno, mas eles precisariam de apenas dois corpos de espaço, um sobre o outro. Ela fingiu dormir, ele deitou ao lado. Talvez uma carícia fosse o começo, mas ele optou por um susurro ao pé do ouvido. "Te quero". Ela já não sabia mais a tática ideal, perdeu o controle e entregou todas as fichas. Ele era o dono das cartas. Os corpos já não tinham espaço para se afastarem, o tempo parava e da janela só se via as marcas de um desejo insaciável. Eles eram a encarnação do prazer, movidos pelos impulsos, mas firmados pela certeza de um grande amor.

domingo, 13 de setembro de 2009

Um amor tão bonito..



Quando ele aparece por aquelas bandas o coração dela se enche de felicidade. Geralmente eles costumam se encontrar pelas manhãs. Do quarto dela não é possível avista-lo, mas é evidente que ela sente sua presença. Fica logo alegre, com a energia revigorada.

Assim que amanhece ela corre para a janela da sala de sua casa para espia-lo, e o desanimo, cansaço e sono que sentia desaparecem no mesmo instante que o vê. Ela sente vontade de viver.Depois de contemplar a beleza dele, ela corre para rua pois de lá além de vê-lo ela também o sente. O abraço dele é envolvente e a esquenta até a alma. O dia fica feliz. Ela fica feliz.

A presença dele dura tempo suficiente para lhe fazer o bem. Ela sabe que não é sempre que o vê . Diz que no meio do ano ele costuma se esconder mas não sabe a causa, apesar disso ela não se entristece porque sabe que ele está lá e também no fim do ano ele torna voltar . Não se sabe se ele é seu amigo, amor ou outra coisa, mas é notória sua admiração e a necessidade de tê-lo em sua vida. E ainda que seu brilho chegue a ofuscar seus olhos o considera um rei e segue o contemplando e desejando vida longa aos raios do seu Deus Sol.

Ah como ele brilha...



Quando ele aparece por aqui por essas bandas meu coração é tomado por uma tacanha felicidade. Geralmente acontece de nos encontrarmos pelas manhãs. Do meu quarto não é possível avistá-lo, mas assim que acordo sinto sua presença. É uma sensação diferente, um misto de alegria, aconchego, acolhimento e principalmente calor. Uma revigoração de minhas energias.
Prontamente corro para a janela da sala de minha casa e por uma simples brecha avisto sua magnitude. Todo e qualquer sentimento de desanimo, cansaço ou sono desaparecem no mesmo instante que o vejo. Surge vontade de sair, conversar, correr, dançar, cantar! Uma vontade de viver! Mas viver no sentido mais poético da palavra, viver no sentido de usufruir...Depois de me contemplar com sua beleza, me apresso logo para ir a rua ,pois de lá posso além de vê-lo, também posso senti-lo. Ele tem um abraço que envolve o corpo inteiro, um abraço que esquenta até a alma. Assim tudo fica mais fácil , tudo flui, o dia fica sempre mais lindo, claro,feliz. As pessoas mais bonitas. Tudo brilha. Fico feliz também.
A presença dele dura tempo suficiente para me fazer bem. As vezes ele se demora, outras aparece rapidinho. No meio do ano ele costuma se esconder por dias e se se esconde é frio, a causa inda não sei. Desses meses eu não gosto muito, não fico triste, pois apesar de não vê-lo sei que sempre está lá. E também sei que é só esperar mais um pouco que nos meses do final do ano ele torna aparecer, e se aparece é calor.
Eu não sei se posso chamá-lo de amigo, nem sei se existe alguma palavra que consiga contemplar os a junção de sentimentos que sinto. O que sei é que sem ele não posso ficar. Sem ele não há calor, é só frio, sem ele não há alegria, é só tristeza. Sem ele não há luz, não há vida.
A estrela de minha vida, tem um brilho tão imenso que ofusca minhas vistas, por isso gosto de espiar assim de longe. É um brilho típico dos astros, o brilho de quem sabe que é o centro, aquele brilho que é só de rei.
Percebo que por mais que eu tente, por mais que eu escreva, todas as palavras ainda são poucas para descrever-te. Talvez tenha conseguido dar uma noção para aqueles que não te conhecem. E eu sempre ei de contemplar-te e desejar vida longa aos teus raios meu Deus Sol.


Por: Érian Naínna