sábado, 3 de outubro de 2009

Cotidiano de Chico


Por: Érian Naínna


“ todo dia eu só penso em poder parar, meio dia eu só penso em dizer não, depois penso na vida pra levar e me calo com a boca de feijão (...)”


Chico levantou da cama e ainda sonolento calçou os chinelos, foi até o banheiro usou o vaso e em seguida deu descarga. Mais uma vez acordara atrasado. A noite passada não fora diferente das outras, a insônia voltava a lhe atormentar. Foi até a pia abriu a torneira e lavou as mãos e o rosto com sabonete e água fria, sagrado remédio para despertar de vez. Como de costume escovou os dentes ,teve que apertar pacientemente o creme dental pois o mesmo já estava quase no fim. Na hora de barbear-se Chico percebeu que o seu pincel havia desaparecido, como estava apressado passou o creme no rosto com as próprias mãos e fez a barba rapidamente com o gilete. Quanto ao banho , ao abrir o chuveiro sentiu cair a água fria em suas costas, se arrepiou e logo ajustou para quente. Terminou o banho, penteou os cabelos ,enxugou os pés com a toalha e foi se vestir. Primeiro a cueca e meias, depois calça, sapatos e por fim camisa, gravata e paletó. Não se sentiu confortável, a camisa estava apertada nos punhos, o aumento de peso já era notório. Pegou a carteira colocou os niqueis, os documentos, que nunca saia sem, e as chaves do carro e da casa. Em seu bolso já estavam os carltons , marca de cigarro predileta, e uma pequena caixa de fósforos, não gostava de fósforos, achava que fediam mas como o gás de seu isqueiro havia acabado noite passada não teve opção. Se dirigiu até a mesa de café da manhã, lá já havia seu jornal matinal colocado logo cedo pela prestativa secretária do lar. Ele gostava de ler enquanto comia. Uma forma de se manter a par das notícias uma vez que não tinha tempo pra TV, Internet e coisas do tipo. Tomou uma xícara de café, estava bem quente, e na hora que se virou para pegar o mamão que estava no pires um pouco mais distante, bateu a mão no prato do pão de sal que rolou pela mesa e caiu no chão. O bule também quase caia, mas ele conseguiu segura-lo a tempo, mesmo isso lhe custando uma pequena queimadura na mão esquerda e uns respingos de chá perto do bolso da camisa. Passou o guardanapo. Por sorte era chá de erva cidreira, não deixava manchas. Depois de seu desastroso desempenho no café da manhã, acendeu um cigarro para se acalmar e seguiu para o carro. A pasta e seu quadros já estavam no carro também. Ele sempre esquecia de pegá-los. Chico nunca fez o tipo que leva trabalho pra casa. Achava que o estresse de passar o dia todo naquela empresa bastava. No lar só queria sossego. Já no escritório colocou as coisas em sua mesa e sentou-se na poltrona, adorava aquela poltrona, talvez fosse uma das poucas coisas de que gostava ali. Olhou pra frente e viu milhares de papéis. Papel igual a trabalho, muito papel igual a muito trabalho e muito trabalho sinônimo de cansaço. Olhou mais uma vez e viu o retrato de sua filha ao lado de um vazo de plantas em cima da mesa. Sentiu saudade, a algum tempo não a via, a verdade é que depois da separação as visitas iam ficando cada vez mais raras. A planta remetia esperança e a filha, juventude. Quis sair dali, quis se libertar. Não podia, não sabia. Então seguiu fazendo o tudo de todo dia. Fumou um cigarro e fez relatórios, leu os papéis e bebeu café, atendeu o telefone e fumou mais cigarro. Pensou nos vales daquela quinta , se felicitou. Lembrou dos chegues da próxima segunda e entristeceu.




Um comentário:

  1. Essa forma de escrita corrida é utilizada por muitos escritores, muitas vezes para dar um efeito de sentido. Acredito que a falta de parágrafos nesse texto o tornou um pouco cansativo apesar dele retratar cenas do cotidiano. :)

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