quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Oficina de Notícias : praticando se aprende




Por : Érian Naínna


O Oficina de Notícias é um jornal laboratório, fruto da disciplina de Oficina de Impresso do curso de Comunicação/Jornalismo da Uesb. São produzidos pelos alunos três jornais por semestre, com cerca de 1.500 tiragens cada. Dentro dessa produção, são desempenhadas funções bastante parecidas com as de um profissional graduado. Funções estas que vão desde a produção textual, até fotografia e diagramação e que direcionam a escolha profissional dos estudantes a medida que estes escolhem produzir o que lhes é de maior afinidade.


Para muitos, a experiência da construção do jornal só vem a acrescentar na formação do aluno, uma vez que através da prática eles conseguem “simular” a profissão e vão se adaptando a vida nas edições. É uma maneira também de estímulo e preparação para o mercado de trabalho.


De acordo com o professor da área de comunicação, Danillo Duarte, o jornal laboratório é de grande importância, pois agrega o caráter prático do curso, “sem dúvida o Oficina de Notícias é o carro chefe para o estudante de jornalismo”. Ele acredita que a grande circulação do produto e a possibilidade de poder assinar textos ajudam muito na preparação de uma carreira: “Vocês têm a possibilidade de estar assinando esses materiais e, sobretudo, demonstrar suas afinidades textuais, sua capacidade de investigação e articulação. Eu vejo no jornal impresso um lugar onde o aluno começa a fazer o seu primeiro currículo”.


Os estudantes do terceiro semestre que estão produzindo os jornais também concordam que a experiência do laboratório é relevante. Para eles, o experimento é fundamental além de diferente. Depois de dois semestres de muitas teorias, os mesmos confessam que não viam a hora de praticar algo de certa notoriedade. “Aqui, vamos atrás de entrevistas, fotografamos coisas, aprimoramos muito nossas produções porque praticamos. Posso escrever textos de cunho mais informativo como subjetivos também, no caso do Engrenagem (caderno suporte do Oficina) que tem uma linguagem mais lúdica.”, acrescentou Ellen Guerra.


A organização do Oficina se dá de maneira bastante diferenciada. Os cargos de editor chefe, editores, repórteres, revisores e fotógrafos não são cargos fixos e ocorrem de forma alternada. Quando abordada sobre essa questão, a aluna Carina Garcia, terceiro semestre, confessou que no início teve algumas dificuldades, sobretudo com a hierarquia estabelecida no jornal dentre os próprios alunos, mas que depois acabou por se familiarizar e adaptar “No início senti dificuldades, tive a chance de ser editora e repórter, aprendi bastante com ambos os cargos. Hoje vejo não só a mim, mas aos demais colegas, como pessoas um pouco mais maduras no que se refere ao desempenho de atividades jornalísticas”.


Outros graduandos que passaram pelo Oficina comentaram sobre a contribuição do mesmo em suas vidas. Eles avaliam o processo como muito válido. Emilãine Vieira, agora no quinto semestre, afirma que a produção do jornal a fez aprender muito, principalmente na parte textual, além de da diagramação “aprendi muito, a questão de como funciona um jornal, como a gente pode participar do processo de construção, como o aluno deixa de ser aluno e passa a ser um pouco jornalista. Ele escreve suas próprias matérias e começa a receber um ’feedback’ das pessoas”. Emilãine, que trabalha na área de web designer, afirma que por questão de afinidade, no Oficina, pode se manter nesse ramo: “eu prefiro me manter nessa parte, na parte de imagens. Eu ajudei com foto, escrevi, aprendi muita coisa, acho que no fim das contas vale muito a pena”.


Apesar dos elogios por parte dos alunos e docentes para com o Oficina de Notícias, é notório que o curso ainda carece de muitas outras oficinas para melhorar a qualidade do jornal. Os alunos possuem bagagem teórica, mas aspectos práticos ainda deixam a desejar. As disciplinas de web jornalismo e fotojornalismo ainda não foram implantadas e se sabe que são imprescindíveis para a formação de um jornalista. A maioria dos alunos é obrigada a aprender, durante o laboratório, detalhes como: qual melhor ângulo para uma foto, como construir bom texto, conciso e sem erros de português, construção de um projeto gráfico, quando na verdade já deveriam entrar sabendo. Essas deficiências acarretam na terceirização do trabalho e prejudicam o andamento profissional dos alunos ao passo que o mercado de trabalho atual exige cada vez mais certa “multifuncionalidade” por parte dos mesmos.


O professor que ministra a disciplina de Jornalismo Impresso, Rubens Sampaio, acredita que além do problema da falta de mais oficinas, existe também a questão da falta de sintonia entre aquelas disciplinas que deveriam preparar os alunos para quando chegarem ao impresso. “O curso teria que ser melhor coordenado, os alunos chegam com um amontoado de teorias na cabeça e alguns até desestimulados com o curso de jornalismo quando a gente sabe que na realidade a profissão é extremamente dinâmica e prazerosa”, conclui Sampaio.

Quando chega a hora de entrar no laboratório

Alunos que já passaram pela Oficina de Jornalismo Impresso contam como foi viver de perto a rotina redacional

Por Patrick Moraes

Para os alunos do curso de Comunicação Social (com habilitação em Jornalismo) da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (Uesb), o tão sonhado 3º semestre é a chance de pôr em prática a teoria dos livros. Inovação, criação, técnica, vivência de redação e tantos outros pontos são aspectos que compõem essa atmosfera do laboratório de Impresso. Estudantes e professores tentam estabelecer uma espécie de relação de mercado redacional e mostram sucesso com o trabalho final chamado Oficina de Notícias.

A enfadonha missão de diagramar



Rubens Carvalho, estudante de jornalismo do 7º semestre, diagramador do jornal-laboratório de sua turma, passou pelas experiências de editor e repórter e mostra como isso é importante para o acadêmico da área jornalística. Já interessado e com conhecimento na parte gráfica, o aluno desempenhou paralelamente papéis que muitos não têm oportunidade. Mesmo assim, revisar e adequar o texto para o projeto gráfico não é nada fácil, como afirma Carvalho: “tive desvantagens em ser diagramador do jornal, pois além de escrever, tinha também que diagramar. No jornal em que fui editor chefe, foi ainda pior”.

Em termos de suporte para os segmentos de diagramação e fotografia, Carvalho afirma não ter vivido essa experiência em nenhuma matéria oferecida pelo curso. Mesmo assim, se mostra positivamente satisfeito com a passagem pelo Oficina de Notícias. Viver o dia-a-dia do laboratório foi motivo de aprendizado e complemento para a teoria estudada. “O Oficina de Notícias, pelo menos para minha turma, foi um excelente aprendizado”, ratifica Carvalho.

Produzir um jornal-laboratório e ouvir elogios a ponto de ser considerado de qualidade superior às produções regionais é com certeza gratificante. Dentro dessa produção laboratorial, o suplemento cultural veio como diferencial para o Oficina de Notícias. Implantado na turma de Carvalho, a ideia ganhou nome de “Balaio” e procurava mostrar o leitor o que há de interessante culturalmente na cidade. No final, Carvalho confirma o que já era esperado quanto à preferência da turma em relação ao segmento a ser trabalho: “Minha turma sempre gostou mais do Balaio por ter esse aspecto mais cultural”. Mesmo assim, nunca houve rejeição com o chamado “Oficina convencional”, onde as notícias tendem a ser mais sérias e essencialmente informativas.

Por fim, Carvalho não apoia a possibilidade de exercer essa ou aquela função isoladamente dentro do Oficina de Notícias. É necessário conhecer de perto a experiência de ser repórter e editor, além de também atender a outras necessidades da redação. Ainda assim, Carvalho sustenta: “não acredito que as funções de diagramador e fotógrafo devam ser tratadas como um cargo no Oficina”.

A vontade de produzir o melhor



Laís Vinhas, também estudante de jornalismo do 7º semestre, repórter e editora do Oficina de Notícias, fala da experiência com brilho nos olhos. Fechar o jornal pode até ser um período de cansaço e ansiedade, mas para a aluna não existe momento melhor para troca de conhecimento entre colegas. Para isso, Vinhas revela ser necessário se entregar à produção, sem vontade nada funciona. "Na minha estadia na Universidade, os momentos mágicos, que mais me fizeram enxergar a comunicação como meu trabalho futuro, foram nas aulas de Jornalismo Impresso", anunciou veemente.

Quando o assunto se volta para as relações interpessoais dentro da redação e a divisão de tarefas, Vinhas vê tudo com muita cooperação e união. A dinâmica de redação na produção de sua turma, que por sinal é a mesma de Carvalho, ocorreu diferente das que se sucederam. Com a divisão da turma em dois grupos, o suplemento cultural, “Balaio”, era editado por um, enquanto o “Oficina convencional” era missão de outro. Na edição seguinte, os papéis se invertiam. Entre os problemas, é certo dizer que o grupo sempre esteve disposto a encontrar soluções junto. A matéria que criticava assiduamente o prêmio recebido pelo curso de Administração da Uesb rendeu “pano pra manga”. No final, “conseguimos, juntos, reverter a situação. Demos espaço na edição seguinte do jornal para o direito de resposta da Assessoria de Comunicação da Uesb e fechamos o caso”, esclarece Vinhas.

Quando o mercado de trabalho é confrontado com a experiência laboratorial, a aluna não acredita na vivência como totalmente mercadológica. Até mesmo pelo seu caráter experimental, o Oficina de Notícias oferece tempo para uma edição mais vagarosa e detalhada, é aqui o momento do estudante inovar. Justamente pelo fechamento ocorrer, geralmente, em um intervalo mensal, o conteúdo das matérias não é “quente” (hot news), existe uma opção pelas matérias atemporais. “No mercado de trabalho a edição de um jornal é feita em um dia, há a aceleração, o cuidado com o tempo, o "deadline", o critério de rapidez, habilidades que os jornalistas que estão no campo conseguem fazer com facilidade, devido à prática, nesse sentido o Oficina não prepara para o mercado”, conclui.

A diversidade de temática nas pautas que devem ser produzidas é mais um aspecto interessante nessa jornada em laboratório. Escrever sobre política não é o forte de Vinhas, que sempre preferiu o segmento cultural. Mesmo assim, encontrou espaço na editoria de economia para experimentar o outro lado da moeda. “Gostei de fazer a matéria de economia, foi extensa, me exigiu muito tempo, concentração, era um tema complexo”, expõe Vinhas, que ainda completa: “era mais difícil do que escrever pro Balaio, mas não menos prazeroso”.

De longe e passado um ano nessa correria, com certeza o trabalho foi compensatório e enriquecedor na vida acadêmica e profissional de Vinhas. As exaustivas 12 horas ininterruptas deixam lembranças que o mercado de trabalho jamais conseguirá suprir. O Oficina de Notícias é a realização de vontades, o crescimento do aluno enquanto jornalista. “Foi uma matéria brilhante, sinto saudades”, entrega Vinhas.