quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Quando chega a hora de entrar no laboratório

Alunos que já passaram pela Oficina de Jornalismo Impresso contam como foi viver de perto a rotina redacional

Por Patrick Moraes

Para os alunos do curso de Comunicação Social (com habilitação em Jornalismo) da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (Uesb), o tão sonhado 3º semestre é a chance de pôr em prática a teoria dos livros. Inovação, criação, técnica, vivência de redação e tantos outros pontos são aspectos que compõem essa atmosfera do laboratório de Impresso. Estudantes e professores tentam estabelecer uma espécie de relação de mercado redacional e mostram sucesso com o trabalho final chamado Oficina de Notícias.

A enfadonha missão de diagramar



Rubens Carvalho, estudante de jornalismo do 7º semestre, diagramador do jornal-laboratório de sua turma, passou pelas experiências de editor e repórter e mostra como isso é importante para o acadêmico da área jornalística. Já interessado e com conhecimento na parte gráfica, o aluno desempenhou paralelamente papéis que muitos não têm oportunidade. Mesmo assim, revisar e adequar o texto para o projeto gráfico não é nada fácil, como afirma Carvalho: “tive desvantagens em ser diagramador do jornal, pois além de escrever, tinha também que diagramar. No jornal em que fui editor chefe, foi ainda pior”.

Em termos de suporte para os segmentos de diagramação e fotografia, Carvalho afirma não ter vivido essa experiência em nenhuma matéria oferecida pelo curso. Mesmo assim, se mostra positivamente satisfeito com a passagem pelo Oficina de Notícias. Viver o dia-a-dia do laboratório foi motivo de aprendizado e complemento para a teoria estudada. “O Oficina de Notícias, pelo menos para minha turma, foi um excelente aprendizado”, ratifica Carvalho.

Produzir um jornal-laboratório e ouvir elogios a ponto de ser considerado de qualidade superior às produções regionais é com certeza gratificante. Dentro dessa produção laboratorial, o suplemento cultural veio como diferencial para o Oficina de Notícias. Implantado na turma de Carvalho, a ideia ganhou nome de “Balaio” e procurava mostrar o leitor o que há de interessante culturalmente na cidade. No final, Carvalho confirma o que já era esperado quanto à preferência da turma em relação ao segmento a ser trabalho: “Minha turma sempre gostou mais do Balaio por ter esse aspecto mais cultural”. Mesmo assim, nunca houve rejeição com o chamado “Oficina convencional”, onde as notícias tendem a ser mais sérias e essencialmente informativas.

Por fim, Carvalho não apoia a possibilidade de exercer essa ou aquela função isoladamente dentro do Oficina de Notícias. É necessário conhecer de perto a experiência de ser repórter e editor, além de também atender a outras necessidades da redação. Ainda assim, Carvalho sustenta: “não acredito que as funções de diagramador e fotógrafo devam ser tratadas como um cargo no Oficina”.

A vontade de produzir o melhor



Laís Vinhas, também estudante de jornalismo do 7º semestre, repórter e editora do Oficina de Notícias, fala da experiência com brilho nos olhos. Fechar o jornal pode até ser um período de cansaço e ansiedade, mas para a aluna não existe momento melhor para troca de conhecimento entre colegas. Para isso, Vinhas revela ser necessário se entregar à produção, sem vontade nada funciona. "Na minha estadia na Universidade, os momentos mágicos, que mais me fizeram enxergar a comunicação como meu trabalho futuro, foram nas aulas de Jornalismo Impresso", anunciou veemente.

Quando o assunto se volta para as relações interpessoais dentro da redação e a divisão de tarefas, Vinhas vê tudo com muita cooperação e união. A dinâmica de redação na produção de sua turma, que por sinal é a mesma de Carvalho, ocorreu diferente das que se sucederam. Com a divisão da turma em dois grupos, o suplemento cultural, “Balaio”, era editado por um, enquanto o “Oficina convencional” era missão de outro. Na edição seguinte, os papéis se invertiam. Entre os problemas, é certo dizer que o grupo sempre esteve disposto a encontrar soluções junto. A matéria que criticava assiduamente o prêmio recebido pelo curso de Administração da Uesb rendeu “pano pra manga”. No final, “conseguimos, juntos, reverter a situação. Demos espaço na edição seguinte do jornal para o direito de resposta da Assessoria de Comunicação da Uesb e fechamos o caso”, esclarece Vinhas.

Quando o mercado de trabalho é confrontado com a experiência laboratorial, a aluna não acredita na vivência como totalmente mercadológica. Até mesmo pelo seu caráter experimental, o Oficina de Notícias oferece tempo para uma edição mais vagarosa e detalhada, é aqui o momento do estudante inovar. Justamente pelo fechamento ocorrer, geralmente, em um intervalo mensal, o conteúdo das matérias não é “quente” (hot news), existe uma opção pelas matérias atemporais. “No mercado de trabalho a edição de um jornal é feita em um dia, há a aceleração, o cuidado com o tempo, o "deadline", o critério de rapidez, habilidades que os jornalistas que estão no campo conseguem fazer com facilidade, devido à prática, nesse sentido o Oficina não prepara para o mercado”, conclui.

A diversidade de temática nas pautas que devem ser produzidas é mais um aspecto interessante nessa jornada em laboratório. Escrever sobre política não é o forte de Vinhas, que sempre preferiu o segmento cultural. Mesmo assim, encontrou espaço na editoria de economia para experimentar o outro lado da moeda. “Gostei de fazer a matéria de economia, foi extensa, me exigiu muito tempo, concentração, era um tema complexo”, expõe Vinhas, que ainda completa: “era mais difícil do que escrever pro Balaio, mas não menos prazeroso”.

De longe e passado um ano nessa correria, com certeza o trabalho foi compensatório e enriquecedor na vida acadêmica e profissional de Vinhas. As exaustivas 12 horas ininterruptas deixam lembranças que o mercado de trabalho jamais conseguirá suprir. O Oficina de Notícias é a realização de vontades, o crescimento do aluno enquanto jornalista. “Foi uma matéria brilhante, sinto saudades”, entrega Vinhas.

Nenhum comentário:

Postar um comentário